segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A NATUREZA PEDE SOCORRO




* Rose Tunala



Houve um tempo em que o equilíbrio regia a natureza, as estações eram bem definidas e os seres viviam em harmonia. Isso não quer dizer que tudo sempre tenha sido tudo um paraíso. Havia secas sim, havia períodos de chuvas intensas também, assim como pragas e outras manifestações. Mas a própria natureza se encarregava de estabelecer o equilíbrio e os seres viviam em harmonia com o ambiente, mesmo nas adversidades que cada região oferece por características próprias.

Nossa terra de Vera Cruz, um dia grande e unificada floresta, a cada dia que passa vai se reduzindo a meras manchas verdes nas suas dimensões continentais. O progresso vem se estabelecendo desde que os colonizadores aqui pisaram e perceberam que a terra era mágica, “... aqui, plantando, tudo se colhe...”. Para as grandes lavouras de café e cana-de-açúcar, árvores caiam ao chão sem nenhum critério, como continua acontecendo nos dias de hoje. E grandes extensões de “desertos verdes” foram se formando e deformando nosso solo.

O desmatamento generalizado, erros no manejo agrícola e pecuário do solo, o crescimento desordenado de núcleos urbanos e a concentração forçada do escoamento de águas pluviais tem provocado um catastrófico processo de erosão rural e urbana em várias regiões do país. Nossos terrenos sem árvores não retém as águas da chuva no solo. A lixiviação (perda da camada superficial do solo) é a primeira resposta da natureza, seguida pelas erosões, assoreamento de leitos d’água, enchentes e desertificação.

A falta de perspectivas para o pequeno produtor e a tecnologia de produção expulsa o homem do campo. O êxodo rural causa uma explosão demográfica em nossas cidades. O surgimento de núcleos residenciais sem planejamento com construções sem qualquer estrutura que sobem os morros, invadem matas, restingas, promovem aterros em alagados, escavações irregulares e muitos outros atos impensados. A produção de lixo cresce em níveis alarmantes e grande parte dele vai parar mesmo nos leitos dos rios contribuindo para o assoreamento juntamente com as terras trazidas com as águas de chuva e as provenientes de desbarrancamentos.

Cada dia mais nossa “selva de pedras” se expande, com a escassez de vegetação e o excesso de concreto o solo de nossas cidades não tem como absorver as águas da chuva, o sistema de drenagem de águas pluviais não comporta tanto volume e nossos rios cada dia mais estrangulados e assoreados pelo dito progresso clamando por seu espaço perdido, enfurecido engole tudo que se encontra às suas margens, inclusive casas e seus moradores, causando pânico e desespero em quem é personagem do fado e sentimento de impotência em quem se faz mero expectador da tragédia anunciada.

A engenharia brasileira já produziu diagnósticos e propostas práticas de solução do problema, algumas dessas práticas de ordem até muito simples, porém de extrema competência. Infelizmente ainda está a faltar audácia e vontade política nas esferas públicas e privadas para que tragédias como o “dilúvio no sul” sejam evitadas. O progresso não respeita os limites da natureza, e a natureza em sua soberania responde à insensatez do homem. O que chamamos hoje de tragédias, é um grito, um pedido de socorro da natureza. E enquanto o homem não se reconhecer como integrante da natureza, parte de um todo e passar de “testemunha” a ativista, não haverá solução plausível para os desastres ambientais e sociais.

* Rose Tunala é licenciada em Ciências Biológicas e escritora