quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sintonia do amor

*Lorena Mossa

Não podemos e nem devemos nos permitir cerrar os olhos ao nosso redor para os acontecimentos tecnológicos. Atualmente quantas são as possibilidades de aproximação dos indivíduos? Veja bem, para que possamos ver, sentir, compartilhar e conviver com esse efeito, se faz necessário abrir o coração e enxergar a igualdade entre os homens.
Quando poderíamos imaginar que com o avanço da ciência e da tecnologia, teríamos como resultado a união e a igualdade das pessoas? Quando imaginar que parte da humanidade teria acesso a um aparelhinho que conectada com o mundo, além de registrar momentos de nossas vidas, iria nos permitir falar a qualquer momento de qualquer lugar com outra pessoa? No meu ponto de vista, foi ele, o telefone celular, a primeira revolução de igualdade e aproximação dos indivíduos. Partindo deste princípio é que podemos refletir em quanto a nossa evolução caminha, a passos lentos, mas caminha. Porque ainda cabe ao homem os olhos pra se ver e os ouvidos para ouvir. Perante Deus somos todos iguais... Continuo ainda com meu pensamento, alguns poderão contradizê-los, mas é essa a liberdade em que quero chegar. Vivemos numa era em que a tecnologia estreitou nossas relações, há quem pense o contrário, mas eu ainda afirmo e comprovo tal fato. O que é uma rede de relacionamentos? A rede de relacionamentos, talvez tenha sido a ferramenta mais importante neste momento em que vivemos... Ninguém está só!!!Ninguém se sente só, embora muitas vezes possa você teclar sem nenhuma companhia. Ah!!!Então é aí que eu quero chegar. Sabemos que na nossa vida nunca estamos a sós, porque temos nossos anjos e mentores protetores, eu vejo a internet, como algo assim, um tanto místico, como algo realmente criado para nos alertar e nos fazer enxergar que perante Deus somos todos irmãos, perante Deus somos todos um, perante Deus somos vidas necessitadas de outras vidas, carentes de amor, de atenção, de carinho, de amizade, de respeito, de consideração, de ajuda mútua. Perante Deus somos seres igualmente capazes de evoluir. Parece estranho hoje o carinho virtual, estranho um beijo, estranho também vc agarrar o amigo e apertar com toda sua força num abraço caloroso, estranho vc entregar uma rosa, dar um pulo de felicidade, emitir elogios, cantar. Tudo parece estranho até que se possa compreender em toda sua profundidade a importância de cada gesto. Qdo recebemos "virtualmente"uma manifestação calorosa de amizade a primeira reação é o nosso sorriso, o bem estar, a sensação de afago, isso no universo é a transmissão dos nossos melhores sentimentos, e tudo isso junto são vibrações de amor. Houve uma resistência, ainda há, muito grande em relação a essa aceitação, claro que devemos sempre ficar atentos, assim como fazemos no nosso dia a dia, devemos vigiar tudo que fazemos com cuidado e zelo, assim tb como em nossas vidas. Eu não consigo ver de outra forma que não seja essa, de caridade para com todos. Quantos médicos, quantos psicólogos, quantos profissionais das diferentes áreas compartilham seus conhecimentos orientando e ajudando, muitas vezes aquela alma infeliz... Ninguém está preocupado se o português está certo ou não, ninguém se incomoda de dividir aquela figurinha bonitinha ou compartilhar aquele vídeo. Trazendo isso para nosso cotidiano, é o exercício da melhoria pessoal, muita das vezes inconsciente mas é. Então com toda minha fé, com toda minha crença e com todo amor que trago no meu peito, eu acredito que isso aqui é uma pequena mostra de onde nós todos podemos chegar. . . As passos lentos, de tartaruga, mas podemos chegar a conviver num mundo melhor, onde aprenderemos de pouquinho em pouquinho deixar de lado nosso orgulho e nossa vaidade para viver uma vida mais íntegra e com a esperança sempre de um mundo melhor. Com amor...

*Lorena Mossa

http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=45073
http://lorenamossa.blogspot.com/



Ser ou não ser político

"O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e estufa o peito
dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil
que da sua ignorância política
nascem o prostituta, o menor abandonado,
o assaltante e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista, pilantra, corrupto
e lacaio das empresas nacionais e multinacionais".
Bertolt Brecht - poeta e dramaturgo alemão .


*Mena Azevedo


Vive-se a pós-modernidade, época de grandes transformações que ocorreram em termos sociais, econômicos e científicos com o surgimento das máquinas.
Nesses tempos pós-modernos, o Brasil passou por avanços e retrocessos nas mais diversas áreas que afetam diretamente o homem. A educação foi sucateada durante a Ditadura Militar, quando as liberdades foram cerceadas nas instituições de ensino, os salários dos professores, aniquilados e as estruturas físicas das escolas, deterioradas. Restava aos educadores o simples e monótono papel de repassar conhecimentos envelhecidos e pré-determinados pelos órgãos superiores. Aos alunos, estudantes universitários ou do colegial, era-lhes negada a palavra para expor qualquer opinião ou debate de idéias. Até mesmo os discursos, por ocasião de festas cívicas ou formaturas passavam pela supervisão dos diretores das instituições. Esses eram pessoas nomeadas pelo governo e, para se conservarem nos cargos e manterem o seu “status quo”, viviam em completa subserviência aos “patrões”, homens que serviam à ditadura.
Mas como nada fica para sempre, esse estado de submissão e violência moral que tolhia a voz do povo, caiu por terra. Paulatinamente, os movimentos democráticos iam ganhando as ruas. De início, era uma voz tímida e sufocada na garganta, após viver mais de vinte anos no silêncio, com o golpe militar. Aos poucos, as vozes que se calaram por aquele “longo e tenebroso inverno”, explodiram nas ruas e avenidas das capitais e das grandes cidades e tomaram conta do país. E a política foi ocupando espaço maior nas discussões e bate-papos das pessoas das várias camadas sociais e faixas etárias.
Diz-se hoje que, nunca, no Brasil, discutiu-se tanto política e cidadania, como agora. Passado o jejum dos anos de privação da palavra, os brasileiros passaram a ingerir política no café da manhã, no almoço e no jantar. Um cardápio muitas vezes pesado, em contraponto ao jejum forçado no período de 1964 a 1985, imposto pelas armas e com o apoio de setores mais conservadores da sociedade, da imprensa e parte da igreja.
Foi um período de apreensão, tristeza e indignação em que a população brasileira mergulhou. Tudo era vigiado e cometiam-se as mais atrozes ações, em nome de uma “falsa segurança”.
Nas escolas, fecharam-se os Grêmios Estudantis e criaram-se os Centros Cívicos, controlados pelos diretores, pessoas de confiança dos governos ditatoriais. Calaram-se as vozes dos estudantes, dos artistas, dos escritores, dos poetas e de muitos jornalistas, dramaturgos e cineastas. Esses profissionais tiveram suas produções censuradas.
Caído o regime de opressão, o tema “política” volta aos bate-papos, às salas de aula, aos noticiários de rádio e tv, aos jornais escritos, às músicas, aos poemas, ao cinema e à dramaturgia. A política volta também à conversa de jovens e adultos, gente letrada e iletrada, homem da cidade e homem do campo. O fato é que há hoje uma consciência maior que grita pela liberdade de expressão, que quer escolher seus governantes e denunciá-los quando deixa de confiar neles. A mídia coloca ao alcance dos eleitores, sem medo de punição, as mazelas sociais deixadas pela inoperância, pelo descaso e pela corrupção. Ninguém aceita mais as falcatruas, o fisiologismo desrespeitoso e o nepotismo que envergonha as famílias.
Não obstante a volta das liberdades, vêem-se, ainda hoje, resquícios do regime militar engendrados na mente e na alma de políticos autoritários, verdadeiros déspotas que, para se conservarem no poder, se utilizam de meios desonestos, de prepotência e perseguições, apadrinhamentos e repartição de empregos a pessoas incapazes. Por isso, não se pode afirmar que se vive neste país uma real democracia. O regime é democrático, mas os políticos que aplaudiram a ditadura continuam com as mesmas idéias cristalizadas na suas mentes doentias. Vê-se isso materializado nas ações que praticam, nos conluios que fazem, na arrogância com que tratam seus subordinados.
Embora a liberdade tenha ressurgido como uma conquista das forças democráticas, há ainda muitos conflitos entre o que o homem comum pensa e o que o político estabelece como diretrizes de sua administração.
Sabe-se que a política é constitutiva do ser humano e prende-se ao seu caráter intrinsecamente social. Por que, então, muitas pessoas se dizem “apolíticas”? É de causar estranheza alguém declarar-se “apolítico”. Deve-se isso a quê? Alienação? Medo? Como o homem, um animal social, pode ficar dissociado da política? Não é ela parte integrante da sua sociabilidade, numa ação cruzada com a sua intersubjetividade? Existe também o outro lado que trata da relação do homem com a natureza e da relação homem-homem. Essa é uma relação insofismavelmente estabelecida, que se torna impossível ao homem sobreviver sem a política.
Essa reflexão dá conta de que a política não é algo ruim, feio, pecaminoso, sujo, mas alguns políticos é que a fizeram assim. Portanto, viver sem política é impossível. Ela é essencial à vida do ser humano, desde que suas ações sejam mediatizadas pela razão, desenroladas com autocontrole das emoções. Dessa forma , se produzirão atos conscientes e em respeito à coletividade.
Falar, então, que é “apolítico” distancia o homem da sua identidade social, porque é do homem que a política trata e é na sociedade que ele vive. Achar-se “apolítico” é, pois, um equívoco. É ter uma visão tacanha, unilateral e simplista de si mesmo e do outro, com juízo de valor concebido aleatoriamente de que política não presta e de todos os políticos são iguais. Inquestionavelmente, nenhum país, nenhum povo, nenhuma sociedade se estabelece sem política.
Viver alheio à política é uma atitude medíocre e preconceituosa do senso comum. Nenhum homem em sã consciência poderá eximir-se desse comportamento social e dessa realidade intrínseca das relações, surgidas desde a Antiguidade Clássica. Fora Tucídides o criador da história política. Ao visitar Atenas pela primeira vez, ficou atônito e se enraizou na vida da Atenas de Péricles que tinha a política como o pão nosso de cada dia. Não foi a história que se tornou política, mas o pensamento político é que se tornou histórico, segundo Werner Jaeger.
Pode-se perceber, portanto, que a política não se constrói da forma que um e outro quer, mas que ela se estabelece na sociedade como forma de melhorar o ser humano, deixá-lo mais aprimorado para viver bem consigo e com o outro. Para isso é preciso que as ações dos políticos sejam voltadas para o bem comum.
Este texto surgiu em virtude da minha inquietação de ouvir, nos últimos tempos, as pessoas se manifestarem como “apolíticas”, como prerrogativa dos seus desenganos.


*Mena Azevedo - Graduada em Letras, Pós-graduada em: Docência Superior; Administração de Sistemas Municipais de Ensino; Literatura Brasileira e Portuguesa; Membro efetivo da Academia de Letras e Artes de Brumado - ALAB, pela qual tem livro publicado: “Pelos Vieses da Educação” e poeta.

Recanto das Letras:
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=6834

http://menaazevedo.blogspot.com/

Alcoolismo


* Lúcia Siqueira

Eu sofro, porque me preocupo muito com alguém que bebe, que está doente e não reconhece isto.

Preciso de ajuda para conhecer meus próprios limites e não invadir o limite do outro, que cego, não irá mudar pelo meu único querer.

Os reflexos do alcoolismo atordoam minha família.

Só por hoje serei paciente e não julgarei meu companheiro por suas limitações. Só por hoje serei feliz do jeito que eu sou. Só por hoje eu aceito o fluxo da vida e o ritmo do outro. Só por hoje não me envergonho do que sou ou do que meu companheiro é. Só por hoje tenho certeza que estou evoluindo e tenho feito o possível para ajudar outros em sua evolução. Só por hoje não serei impedimento ou pedra de tropeço para a evolução de outro alguém. Só por hoje não terei medo.

Definitivamente tenho paz neste momento e consciência de minha própria evolução. Tenho consciência da minha dor e do meu desespero e não desejo transferir para outros as minhas mágoas, frustrações ou medos.

Conscientemente percebo que influencio o ambiente ao redor e consequentemente as pessoas que estão nele. Me perdôo por ser como sou.

Meus sonhos e aspirações não estão represadas ou foram abortadas, aguardam o momento de suas realizações enquanto cuido de mim, da minha energia, me fortaleço, me compreendo, me perdôo, me gosto.

Estou no caminho do auto-conhecimento. Para muitos é uma loucura, para mim, é o meu caminho.

Desejo amar o meu amor com liberdade, por isto não o aprisiono. Não desejo mais me aprisionar também, nem magoar, nem infligir o direito dele de ir e vir e fazer suas próprias escolhas.

Obrigado Deus, pela lucidez, pelo menos neste momento.

Obrigado, obrigado, obrigado.

* Lúcia Siqueira: Graduada em Administração com Habilitação Hospitalar, Especialista em: Estado e Sociedade Civil: Política e Gestão d ONGs; Gestão da Qualidade em Serviços e Recursos Humanos; Política e Estratégia Governamental e Poeta.

Recanto das Letras: http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=32565.

Flexibilidade, consumo e imagem



Júlio Nessin*



O que acontece com o caráter do profissional, no seu processo de formação, dentro de uma sociedade baseada no capitalismo flexível? Essa “flexibilização” muda o significado do trabalho?
A carreira profissional é o instrumento concreto da vida econômica do trabalhador e este é descaracterizado devido à flexibilização do trabalho que se configura num sistema de poder constituído de três elementos básicos: a reinvenção descontínua de instituições, especialização flexível de produção e concentração de poder descentralizado: Reinvenção descontínua das instituições: as instituições transformam o presente descontínuo com o passado. A prática administrativa passa a ser em rede e não mais piramidal. Surgem reinvenções, reengenharia em busca da maior produtividade e, conseqüentemente, a redução de empregos; Especialização flexível: tenta por no mercado, cada vez mais rápido, produtos mais variados. Substitui a linha de montagem por ilhas de produção - mudanças nas tarefas semanais a até diárias dos funcionários e a Concentração sem centralização: implica numa falsa impressão de que esta nova forma de organização do trabalho descentraliza o poder no momento em que dá um relativo controle sobre suas atividades. Neste caso, a liberdade encontra-se, apenas, na escolha de como realizar o que é exigido pelo sistema.
Este sistema exige dos profissionais a capacidade de serem ágeis e principalmente, abertos a mudanças rápidas e em curto prazo. Esta descaracterização também acaba atingindo o seu caráter:
"O termo caráter concentra-se sobretudo no aspecto a longo prazo de nossa experiência emocional. É expresso pela lealdade e compromisso mútuo, pela busca de metas a longo prazo, ou pela prática de adiar a satisfação em troca de um fim futuro. Da confusão de sentimentos em que todos estamos em algum momento em particular, procuramos salvar e manter alguns; esses sentimentos sustentáveis servirão a nossos caracteres. Caráter são os traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem. Como decidimos o que tem valor duradouro em nós numa sociedade impaciente, que se concentra no momento imediato? Como se podem buscar metas de longo prazo numa economia dedicada ao longo prazo? Como se podem manter lealdade e compromissos mútuos em instituições que vivem se desfazendo ou sendo continuamente reprojetadas? Estas são as questões sobre o caráter impostas pelo novo capitalismo flexível." (Sennett, 1999: 10-11).
Antes da implantação do sistema capitalista flexível, o trabalho era para a vida toda, a exemplo dos contínuos do Bando do Brasil que chegavam a gerentes, isto é: havia segurança no emprego. Deste modo, os trabalhadores poderiam prever como seriam suas vidas. Com a flexibilização, o objetivo do trabalhador passou a ser estar aberto às mudanças e correr riscos. Estas mudanças, na vida dos indivíduos, trazem consigo insegurança e o medo constante da perda não só do emprego, mas do controle de suas vidas, com isso perde-se o senso de comunidade, fazendo com que cada trabalhador cuide apenas de si, transformando colegas em adversários.
O relacionamento familiar passa a ser prejudicado, já que o trabalho não pode ser usado como exemplo de conduta ética porque o lema "Não há longo prazo" implica em não haver mais estabilidade no emprego que, conseqüentemente, não pode mais ser utilizado como o conjunto de qualificações durante toda a vida de trabalho. A principal causa disso é que agora o mercado é motivado pelo consumidor (que busca a mudança) e as pessoas não mais se associam a "longo prazo", o que enfraquece os laços:
"É a dimensão do tempo do novo capitalismo, e não a transmissão de dados high-tech, os mercados de ações globais ou o livre comércio, que mais diretamente afeta a vida emocional das pessoas fora do local de trabalho. Transposto para a área familiar, 'Não há longo prazo' significa mudar, não se comprometer e não se sacrificar (...)." (SENNETT, 1999 p. 25).
A "flexibilidade" implica em ser adaptável a forças variáveis, sem ser quebrado por elas, tornando-se uma forma de resolver o problema da rotina. Segundo Harvey (1989, p. 140), a flexibilidade “também envolve um novo movimento que é a compressão do espaço-tempo no mundo capitalista”.
Em meio a esse contexto, surge a exigência do indivíduo ser capaz de dobrar-se à mudança, capaz de não se apegar ao que constrói, trazendo à tona mais um traço da flexibilidade do caráter: a tolerância à fragmentação. O desprendimento do passado e a aceitação da fragmentação tornam-se traços essenciais do caráter que é formado dentro deste mundo flexível, que cria novas estruturas de poder e controle.
Outra mudança no caráter, trazida pela flexibilidade, é a avaliação ilegível da classe social e do trabalho realizado por parte dos trabalhadores. Em fim, o compromisso com o trabalho torna-se superficial porque não se entende o que se faz. É daí que decorre a necessidade de estar apto a correr riscos, a estar sempre mudando, já que não se tem uma ligação pessoal com o trabalho realizado. Conseqüentemente, não se deve ter medo de correr riscos, pois correr riscos é uma exigência da flexibilização.
Torna-se necessário ter coragem para enfrentar os riscos e sempre começar do zero; provar, todos os dias, que se é capaz, como se diz popularmente: “matar um leão por dia”. Mas correr riscos gera uma incerteza que produz uma desorientação que se apresenta de três formas: 1) mudanças laterais ambíguas: mudanças para o lado, e não para cima (a hierarquia piramidal é substituída por redes); 2) perda retrospectiva: só se sabe a perda depois de realizada a ação; e 3) resultados salariais imprevisíveis: perdas de ganhos salariais. No entanto, no mundo flexível, deve-se correr risco mesmo sabendo que se pode fracassar.
Surge assim, o “homem irônico”, que não se leva a sério por estar sempre sujeito à mudança. O fracasso passa a ser uma perspectiva de vida, e é assumido pelos trabalhadores como uma responsabilidade pessoal, que passa por três fases distintas: traição da empresa, busca de forças externas para culpar e responsabilidade a respeito do que poderia ser feito para evitar a situação.
Apesar de todas essas condições emocionais geradas pela nova forma de organização do trabalho, ou seja: incertezas da flexibilidade, ausência de confiança, superficialidade das relações, etc., o capitalismo moderno trouxe uma conseqüência inesperada: o anseio de comunidade, a busca pelo "Nós", como forma de auto-proteção, de auto-defesa contra a instabilidade e insegurança causadas pela flexibilização. Mas, ao mesmo tempo, a constatação de que se necessita do outro, traz com ela o problema da desconfiança. É a vergonha da dependência que corrói a confiança e o compromisso mútuos apresentando-se, esta questão.
Pode-se concluir, portanto, que a formação do caráter dos indivíduos não está relacionada apenas ás questões psicológicas, mas que também é fortemente influenciada pelo social; e que se trata de descobrirmos como manter o senso de comunidade dentro de uma sociedade. Nesse sentido Sennett afirma: “sei que um regime que não oferece aos seres humanos motivos para ligarem uns para os outros não pode preservar sua legitimidade por muito tempo” (SENNETT, 2001 p. 176)


Referências Bibliográficas:
HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2000.
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2001.


*Júlio Nessin: Licenciado em Educação Artística com Habilitação em Desenho, Especialista em Gestão Ambiental e Poeta.
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=31253