por:Josenilton kaj Madragoa*Toda formação social tem a sua fatia podre, igualmente como dentro de cada um de nós. Existem fatias finíssimas e há outras que são quase uma banda inteira.
A fatia podre geralmente é a parte que faz mais barulho e chama à atenção, ao ponto de comprometer a imagem da parte maior do todo social. Mas só a imagem.
Tendemos a julgar a maioria pela minoria. A maioria boa e decente é pulverizadamente anônima. Precisamos ver o bem ou o bom da vida também. E precisamos acima de tudo fazer o bem para os bons, o bem a quem faz o bem, o bem para os maus e o bem a quem faz o mal.
Tendemos a ver nos outros o que há dentro de nós mesmos de forma prevalente. Julgar sempre foi mais fácil do que julgar-se e do que fazer pelos outros o que gostaríamos que os outros fizessem por si e por nós.
O pessimismo social sistemático é muito também um sintoma de egoísmo, de amargura, típico dos mal amados e dos maus amantes.
O simples pessimismo não muda nada. O que muda é a visão ativa, a arte, a leveza, o bom humor, as brincadeiras e outras ações psicoinclusivas e positivadoras. O que faz a diferença nestes conflitos transicionais é a busca incessante pelos valores naturais autênticos, inclusive a partir da vigilância dos próprios pensamentos e dos sentimentos. [O problema é a falta de microfones, de megafones, de câmeras e de holofotes, que são vastamente explorados pelas forças alienantes, que, por isso, passam a impressão de que são maioria. Ademais, o ruído de um tiro repercute muito mais nos tímpanos sociais do que o estalar de um beijo.]
Não que devamos esperar somente coisas boas na nossa direção. Não devemos agir como os otimistas visionários. Devemos mesmo é ser otimizadores, fazer a nossa parte, construir, ainda que formicularmente, a sociedade perfeita que sonhamos, a partir da nossa casa, do nosso local de trabalho, da nossa igreja, da nossa família e dos lugares por onde passamos.
Mais importante do que sermos pessimistas ou otimistas é buscarmos um mirante que nos dê uma visão panorâmica de toda a formação social da qual fazemos parte, com nossos bens e com nossos males. Veremos, certamente, que há muito mais motivos para sermos felizes do que infelizes com o mundo. Veremos que Jesus está presentado no meio de nós, não somente na pessoa dos bêbados, dos indigentes e dos mais humildes, mas também na pessoa dos amigos, dos trabalhadores anônimos, das crianças, dos velhos, dos bons policiais, dos juízes corretos, dos caridosos, e no coração de todas as pessoas, independentemente de suas aparências sociais, emocionais e psíquicas.
Quanto mais panorâmica for nossa visão e quanto mais enxergarmos os outros pela lente do amor, da compreensão e da solidariedade, tanto mais felizes nos sentiremos, ao ponto até de reconhecermos que, na média, a vida é mesmo bela.
Principalmente nesta fase de transição planetária e sua efusão de invasões ideológicas capitalísticas e sócio-drogais (alcoolina[1], musicaína[2], nicotina etc), que têm um raio de ação que atinge a todos ativa ou passivamente, há a impressão de que o mundo está irremediavelmente perdido.
A pior droga chama-se inação. Existem pessimistas otimizadores, que se posicionam ativamente no chamamento à ordem e à atenção para os males sociais, e existem os otimistas pessimizadores, que vivem vendo só alegria e beleza em tudo, num verdadeiro mundo de Oz, mas que nada fazem para melhorar seu derredor social. São os alienados mais perigosos.
Quando se parte para fazer alguma coisa positiva, com boa vontade, as surpresas tendem a acontecer em cada esquina, em cada olhar, em gestos simples, onde e quando antes nada se via em estado de prostração.
O caos não é exatamente caótico, mesmo nesta pororoca transicional do planeta Terra de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração. O fluxo de encontros, desencontros, reencontros e não encontros continuam sob estreito controle das forças cósmicas divinais. Mesmo as energias vampíricas e más têm alguma permissão de se espraiarem, porque têm utilidades corretivas e provativas.
O bem que não fazemos para contribuir implicará o aumento cada vez maior da violência e da criminalidade, da alienação, das doenças e das mortes, inclusive voltadas para nossas direções.
Os grandes fluxos de confusões, conflitos e tumultos estão sempre a nosso alcance perceptivo. A tendência de muitos de nós é se refugiar em suas fortalezas ideológicas. Enquanto isso, lá fora, no meio do barulho há muitos anônimos colaboradores do Cristo tentando suavizar dores, despertar consciências, fomentar esperanças, nos vários "corredores humanitários"[3] desta grande batalha final. E nós? Estamos dando algum demão ao Cristo ou só exercendo o papel de críticos sociais e políticos?
---------- * * * ----------
[1] Qualquer mistura que contém álcool e que age no sistema nervoso central provocando estado de entorpecimento e de embriaguez, geralmente causando viciação e danos físicos ou psíquicos com a continuação do uso.
[2] Qualquer ritmo sonoro simples injetado pelos ouvidos através de aparelhos eletrônicos, normalmente de forma repetida e bastante alta, ao ponto de drogar viciadamente seus usuários. Alguns o chamam de música e a seus produtores, de artistas.
[3] Expressão utilizada a partir de janeiro de 2009, na atual guerra entre Israel e Palestina.
*Josenilton kaj Madragoa denomina-se um escritor social. Possui bacharelado em Direito e é pós-graduado em Estudos Lingüísticos e Literários, pela UFBA, e em Direito e Processo do Trabalho, pela UCSAL. Fala e ensina a Língua Internacional Esperanto.Josenilton kaj Madragoa diz: Fiz uns retoques na minha crônica "Inspirado pela Faixa do Bonfim e pela Festa de Gaza". Quem eventualmente não a leu, mas ainda "é dado lê-la", queira priorizar sua leitura a partir da versão do site Recanto das Letras (http://www.recantodasletras.net/discursos/1390125), agora sob o título "Sejamos Pessimistas Otimizadores".
Grato