domingo, 28 de fevereiro de 2010

Uma nova economia está por vir

*Ricardo Marques



Assim que desencadeou a forte crise econômica mundial desta década, que abalou sensivelmente países até então considerados de economia consolidada em todo o planeta, cientistas, economistas e estudiosos de diversas áreas começaram a se debruçar em estatísticas, números, dados e outros instrumentos para, primeiro explicar o que estava acontecendo e, segundo, buscar uma alternativa viável para que pudéssemos tornar a crise um evento passageiro, e o mais rápido possível.

Na verdade, a crise serviu como um aviso, como tantos outros aconteceram e estão acontecendo: uma afirmação que o nosso sistema econômico e nossa forma de lidar a divisão de bens e serviços em torno da qualidade de vida não é um modelo viável. Na perspectiva econômica, nossa tecnologia atual consegue produzir o necessário para atender até quatro vezes a população da terra, mas vivemos num modelo extremo de desigualdades sociais e má distribuição de renda. Desafio posto: a humanidade precisa aprender a distribuir suas riquezas.

Na perspectiva ambiental, estamos utilizando para manter o nosso modo de vida, toda a capacidade do planeta e 25% a mais, se pensarmos a necessidade deste mesmo planeta de recompor os recursos naturais utilizados de modo que o sistema de utilização-reposição se torne viável e sustentável. Isso quer dizer que produzimos mais que o necessário para a nossa sobrevivência e também exploramos mais do que a capacidade de auto-regulação do planeta. Desafio posto: precisamos aprender a viver racionalmente – o que deveria ser o diferencial entre nós e os demais animais – mantendo nossa qualidade de vida, reduzindo o nosso consumo e consequentemente reduzindo a nossa “pegada” de consumo de recursos naturais.

Só que isso é plenamente viável: temos tecnologia para isso, temos “inteligência” para isso e agora o principal: motivos: estamos numa crise cuja solução todos sabem e está sob o alcance de todos. Mas essa é uma tarefa coletivamente planetária. Uma responsabilidade de cada cidadão no mundo inteiro, em que o seu nível de comprometimento aumenta, dependendo de nosso nível social e de nosso nível de conhecimento, ou seja, quem tem mais deve abrir mão para quem tem menos. Quem conhece mais deve educar a quem compreende menos.

É esse o grande desafio da humanidade neste século. A diferença é que se não conseguirmos realizar a nossa tarefa, a punição será o desaparecimento da humanidade nos moldes como a conhecemos hoje. Ou será que todas essas tragédias naturais que estão acontecendo não tem a ver com tudo isso? Os desastres climáticos já estão matando mais de 315 mil pessoas por ano (Dados do Fórum Humanitário Global), isso sem contar o impacto na economia: cerca de um bilhão de dólares por ano (ONU).

Desse modo, o desafio é global, mas também regional e individual. A nossa região terá a chance de participar desse debate mundial e propor alternativas, além de analisar o seu modelo de desenvolvimento: no que podemos contribuir? Dia 29 de Abril no Centro de Cultura estaremos recebendo cientistas, estudantes, empreendedores, líderes regionais para traçarmos nosso plano. O evento “Vitória da Conquista 2020 – Prosperidade para uma Região Sustentável” chega para nos alertar, mas também dizer que é possível atravessarmos essa nova crise sem abrirmos mão do nosso desenvolvimento e nossa qualidade de vida. Desse modo, a participação de todos é importante para selarmos um pacto em torno de uma nova forma de economia.



*Ricardo Marques é Vice Prefeito de Vitória da Conquista. É graduado em Administração, Especialista em Saúde Coletiva e Mestrando em Meio Ambiente e Desenvolvimento.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Menininha Linda do Chapeuzinho Vermelho

Adília Maria, professora de português do Centro de Atividade Integrada do SESI/SENAI – Candeia, Bahia, em 2005, utilizou-se de um texto de um dos seus alunos da turma de 7ª série, para ser analisado na sua prova, como um excelente recurso pedagógico. Como pai deste aluno, posso afirmar que o resultado foi esplêndido, não apenas para o meu filho, autor do texto, que teve a sua auto-estema elevada, mas para toda turma, incluindo o mesmo, que pode perceber a riqueza da contextualização de uma idéia literária, tendo tão próximo o seu autor, tornando possível a interação imediata da obra com o seu criador.
Segue abaixo o referido texto:



Menininha Linda do Chapeuzinho Vermelho



Salvador, 09 de março de 2005.


Menininha linda do chapeuzinho vermelho,

Permita-me que a chame de Chapeuzinho Vermelho, já que ainda não sei o seu verdadeiro nome... Eu sou aquele lobo que lhe abordou naquele dia, lá na floresta, você se lembra? Na verdade, chamam-me de Lobo Mau, nem sei por quê, pois nem sou tão mau assim como eles pensam. Apenas, aguardo as minhas presas para saciar minha fome. Todo mundo não faz isso também, ou seja, todo mundo não retira de outra espécie, e, às vezes da mesma, a sua forma de alimentação? Acontece que quando fui lhe atacar, senti algo em mim muito estranho, embora, estivesse ali esperando alguém para ser o meu almoço, e você, supostamente é quem seria. Quando a vi, o meu coração bateu mais forte e senti uma coisa diferente por você, como nunca tinha sentindo isso antes por ninguém, nem mesmo por uma lobinha que eu estava namorando há um tempo!
Meu coração disparou tanto que eu nem conseguia falar direito; mudei a minha voz e fiquei falando daquele jeito com você, com uma voz mais delicada sem nem saber o que dizer direito. Foi por isso que eu aconselhei a você para ir pelo caminho mais longo, quando me disse que estava indo para a casa de sua avó. Nesse momento, eu pensei rapidamente em ir correndo, chegar lá antes de você e pedi para sua vovozinha me deixar lhe namorar. E foi o que eu fiz! Mas quando eu cheguei lá e falei isso para ela, ela começou a me xingar e a bater em mim com uma bengala,colocando-me para fora da casa dela! Eu fiquei desesperado! Quanto mais eu dizia que eu estava apaixonado por você, mais ela chamava-me de “lobo velho” safado, aí, eu fui ficando nervoso e com medo de que você chegasse e visse aquela cena, como eu já estava com fome mesmo, acabei engolindo a sua querida vovozinha! Por isso, eu estou escrevendo essa cartinha para declarar o amor que sinto por você, dizer que sou loucamente apaixonado por você, que não sei mais viver sem pensar um só segundo em você e para pedir que você me perdoasse por ter engolido a sua querida vovozinha, principalmente, porque ela saiu de dentro de mim sã e salva, depois que aquele caçador me acertou um tiro. Daí ele me trouxe rapidamente para esse hospital em que eu estou até agora convalescendo, depois da cirurgia que me fizeram para retirar sua vovozinha de dentro de minha barriga. Ela passa bem e eu ainda estou sentido muitas dores, mas a dor maior que eu estou sentindo, nesse momento, é a dor da paixão que me aperta o peito.
Chapeuzinho Vermelho, apesar dessa pequena diferença de idade que nos separa (sem se preocupar com esse negócio de pedofilia), mesmo sabendo que isso hoje em dia é condenável pela sociedade, eu queria muito que você me desculpasse de verdade e que me aceitasse como seu namorado.
Aqui eu me despeço, aguardando uma resposta positiva e imediata, prometendo nunca mais engolir sua querida vovozinha, viu?
Um beijo desse seu amado “Lobo Mau”, mas muito apaixonado por você!

Lemenes Nessin*

*Nessin, S. Lemenes (22 de novembro de 1992), tem 12 anos, nascido em Candeias, gosta de cantar e toca violão, é aluno do SESI/CAT/Candeias, cursando a 7ª série.